Notícias de uma Reforma em Diáspora
Os que choramingaram pelo fim da Boate Boomerangue têm mais um motivo para ver que agiram como gralhas-do-caos e cassandras-de-hospício: vai ter show do Retrofoguetes no B-23, Shopping Boulevard 161, sexta-feira que vem, dia 17. Isso mesmo, no antro do axezismo carrodependente “Pelourinho tá abandonaaaaado” sub-carlista do Itaigara.
O fim da Boomerangue funcionou como o retirar das rodinhas da bicicleta: nós, forjados na resistência ao Axé-Sistem, e que desde 2006 construímos de modo protegido o Pós-Axé, estávamos precisando crescer e ganhar mundo. Invadir território adversário – por exemplo o Bahia Café dos Aflitos. Fazer o que o des-jornalismo mentecapto bahiano (que não deu uma nota sequer sobre a dupla premiação da Orkestra Rumpilezz no 21º Prêmio Música Brasil, por exemplo) não faz – construir realidades, contra os mito burgueses estereotipados forjados pelo egungun do carlismo morto-vivo.
Baile Esquema Novo indo pro centro da cidade, Bêco dos Artistas se reerguendo, o Teatro Vila Velha sediando Encontro de Compositores Bahianos (aos moldes práticos do que fizemos, em teoria, com o Cartel Sobre A Canção aqui ano passado). O Espaço Unibanco Glauber Rocha Artplex se tornando multiuso desde o carnaval (com a Varanda do Glauber, fundamental para a revitalização da Praça Castro Alves), e anteontem sediando showzaço bem cheio do Baiana System.
Piu piu, trem trem – quem não notou ainda saia da frente porque estamos vivendo uma segunda etapa da Reforma Cultural Bahiana. Se por um lado o Rónei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta encerram atividade, por outro o Retrofoguetes grava programa para a TVE que vai ser distribuido em pen-drives e CDs para 600 escolas estudais do interior. É um golpe de misericórdia no Axé-Sistem, tal qual Ricardo Castro dizer que gostaria de ver CDs do Neojibá serem vendidos pirateados na praia de Itacaranha, Subúrbio Ferroviário, que nem pagodão.
Pra colaborar com o “linchamento ao cachorro morto”, nos juntaremos e ampliaremos o Semeando Livros também para CDs de música: largaremos por aí, a partir de outubro, discos devidamente copiados com canções de O Círculo, Formidável Família Musical, Orkestra Rumpilezz, e quem mais queira e nos peça, ou nos dê na telha. É, sim, um ataque pirata – mas sem fins lucrativos. Contra o jabá de radio, usemos a gratuidade colaborativa microfísica. Vamos ver no longo prazo quem guenta mais.
Sobre o uso do rock do Retrofoguetes em sala de aula, perguntei ao ex-governador e candidato Paulo Souto. Me respondeu ele uma generalidade qualquer como “é sempre bom usar música de qualidade para o ensino de música”. Isso depois de 15 dias de eu ter perguntado, e de ele ter tido um Lapso de Carlismo Extemporâneo inclusive tentando me intimidar por eu ter reproduzido a fala dele na sabatina do Correio da Bahia sobre política cultural (na qual ele não diferencia Semiodiversidade de Mercado). Depois ele percebeu a bobagem que estava fazendo, voltou atrás e pediu desculpas. É admirável este esforço pessoal de Paulo Souto para não cair na ultra-direita parafrência que o cerca – lembra-me o Santo Antão de Salvador Dali fugindo das tentações-elefante/girafa. Acompanhem aqui.
O que Paulo Souto disse é, parafraseando Delfim Moreira Neto, o tipo de opinião-biquini: mostra tudo, mas esconde o essencial. Quem seria contra o uso de boa música, atípica e premiada, na sala de aula? Ninguém. Só que a resposta dele omite juízo sobre o fato de o formato ser altamente pirateável, por ser em pen-drives e CDs; e também sobre o fato de isso ser uma ação de terrorismo cultural-institucional contra o estabilhsment axezeiro que ele ajudou a criar, a manter, e promete reviver caso seja eleito. E ainda bem!
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