Rifam-se Estados

13/03/2010 at 10:27

O único governante do Brasil que nunca rifou a Bahia, o Maranhão ou Minas Gerais.

O único governante do Brasil que nunca rifou a Bahia, o Maranhão ou Minas Gerais.

Bahia, Maranhão e Minas Gerais são historicamente estados que o poder central leva a tábua de sacrifício, se preciso for. A tradição vem de longe, e remonta mesmo a Independência. Desde 1821, sabe-se que a Bahia havia declarado guerra ao Governo Geral Português de Luís Antônio Madeira de Melo, o Madeira-Podre. Dado o grito do Ipiranga, em setembro de 1822, Dom Pedro I leva mais de seis meses para mandar pra cá generais ingleses e franceses para nos ajudarem a vencer a guerra.

E em nada ajudaram. A história conta que Gal. Labatut mandou tocar retirada e, por não obedecer e tocar “avançar cavalaria”, é que o Corneteiro Lopez nos levou a vitória nas Colinas de Pirajá. Se o preço de um Brasil independente fosse a Bahia, o primeiro imperador entregaria de bandeja e sorrindo.

Como quase entregou o Maranhão. O Monarca só mandou tropas para São Luís, lideradas por Lord Cochrane, quando viu a Bahia vencer – sozinha! – Madeira de Melo. Pese-se que a elite maranhãense talvez seja a mais sangue-suga. Diferente da elite bahiana, que bancou a guerra (e estamos falando das mais variadas elites: da mineradora de Caetité, a decadente açucareira do Recôncavo, dos fumageiros, dos pequenos comerciantes de Feira de Santana e da nescente industria cacaueira do sul do estado), a elite do Maranhão fez corpo mole e se colocou ao lado das tropas lusas. Foi uma independência dada, ou imposta, e não conquistada como a da Bahia. O que muito diz respeito a diferença que há nos dípticos sarneyzismo X anti-sarneyzismo & carlismo X anti-carlismo.

Minas foi relegada a segundo plano até meados do Segundo Reinado, o que lhe deu sua capacidade de auto-governo, autóctone, que é sua marca até hoje.

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“O futuro do Brasil passa pelo desenvolvimento do Maranhão”

Celso Furtado

Esse imenso Maranhão, chamado Brasil

Um dos preços da estabilidade do segundo Governo Lula foi o sacrifício do estado mais pobre do país, o Maranhão. Pobre de grana, e de ganas. “A Bahia, sem sangue”, diz uma escritora portuguesa contemporânea – isto é: culinária idêntica, mas sem dendê; história política idêntica, mas sem revolta. Contudo, culturalmente riquíssimo.

São Luís recebe todos os anos, no mês de junho, Bumba-Bois vindo de todas as regiões do estado (em pelo menos quatro estilos musico-coreográficos díspares), e às vezes até mesmo do Piauí e Pará. Não conheço capital no Brasil que tão altivamente cumpre sua função de capital: de representar a unidade da diversidade de regiões de seu imenso estado.

Para nós, de Salvador, é um tapa com luva de pelica: mais isolada do que a Península Reconvexa, São Luís nunca virou as costas ao interior de seu estado. Salvador levou décadas como uma Capital Autista (que na prática aliás nem capital era, dado que a sede do governo ficava no acesso norte da cidade, o Centro Administrativo da Bahia, e não em seu centro).

Assim, o país dependeria do Maranhão para reforçar, modificar, melhorar sua identidade e unidade nacional.

Mas o relega. O que fez Lula de 2006 pra cá? deixou o governo de Jackson Lago (uma espécie de Waldir Pires do norte) morrer a míngua, blindou José Sarney, se amigou com Roseana depois de ela ter ganho no tapetão a menos de um ano e meio do fim do mandato.

E o Maranhão será rifado de novo para eleger Dilma Rousseff. E, diferentemente da Bahia (que conta com Paulo Souto de um lado, e Waldir Pires do outro) e de Minas Gerais (que conta com Aécio Neves), o frágil primo-pobre não tem como se proteger da sanha do quem-dá-mais.

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Aécio conseguiu conter a rifa de Minas Gerais desde 2002. Aliás, se elegeu com este discurso – para desatrelar o PSDB de Minas do que foi a Era FHC (Minas foi o estado mais prejudicado por FHC, por conta da venda, digo doação, da Vale).

Não se pense contudo que a sanha rifadeira sobre o Estado das Gerais se dê apenas a direita. Se Serra faz de tudo, inutilmente, para constranger o neto de Tancredo, Lula é capaz de suprimir um nome brilhante como Patrus Ananias para apoiar Hélio Costa – ou, menos mal, optar pelo centrão de José Alencar (e aí levando pouco em conta a idade e saúde de alguém que lhe tem sido um fiel escudeiro. Lula definitivamente não tem escrúpulos).

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Na Bahia, o leilão Lulista quer enfiar goela-abaixo do eleitor anti-carlista (aquele que não rejeita o nome de Paulo Souto por ver nele a primeira derrota, interna, de ACM) César Borges. Espancador de adolescentes em campus federal, grampeador-mor da República, com quem o estado diminuiu de tamanho quando o governou.

Não creio que uma aliança Jaques Wagner – César Borges seja possível: ambos sabem que não apenas não agregam voto ao outro ou a si, como a presença do outro lhe tira votos. César perde votos se aparece com Wagner; Wagner perde votos se aparece com César. E não se trata aqui de purismo: sou plenamente a favor que se coopte parte da direita carlista, que era técnica e não-tirânica, para os lados da reconstrução democrática. Isso foi feito com Antonio Imbassahy, pode ser feito com Otto Alencar e mesmo com Paulo Souto não seria estranho. Com César, não! Como diz uma lendária pichação no Bairro da Graça, na esquina das ruas Orlando Gomes e Da Paz: “Chega de césares!’.

Reproduzo abaixo comentário preciso que apareceu no Terra Magazine e Victor Hugo Soares transformou em post no seu blog:

NO ALTAR PAGÃO DO PRAGMATISMO

Inácio Gomes

Pragmatismo é a palavra da moda no Brasil de hoje. Não se denuncia e submete a julgameto o torturador do passado para não se comprometer a governabilidade.È pragmatimo. Os que estão nos palacios fecham as janelas para que a seu ouvidos não chege os gritos dos torturados e as palvara de ordem da mocidade do passado dizendo que “o povo unido jamais será vencido”.

Para se manterem no poder as allianças mais espúrias são construidas. Tudo em nome do Pragmatismo. Não sou sectario. A participação de Otto Alencar na chapa de senador é comprensivel. Carlista no passado nunca ordenou a repressaõ policial aos movimentos populares e estudantis. Será , nete caso,uma alliança para construção de um novo momento na Bahia.

Agora, querer fazer o eleitorado democratico engulir guela á baixo um cesar borges – aquele que ordenu a ocupação do campus universitario de ilnstalações do hospital universitário para repelir violentamente movimento estudantil democratico -é, me permita repetir, o gigantimo do pragmatismo .

É um tapa na cara dos que lutaram contra a ditadura e,ainda, estão vivos. È desrespeitar a sepultura do mortos. Governador , pragmatico V.Excia.será se homenajeando o passado e olhando para o futuro convidar Waldyr ou Lidice para compor a chapa que a seu lado será a continuação do seu dinâmico gverno.

Certas hora eu chego a imaginar que na Bahia a Sindrome de Estocomo foi substituida, em alguns casos, por uma relação sado masoqista, saudosa, entre torturado e torturador. Tudo no altar pagão do Pragmatismo.

No que Inácio Gomes se engana é que não é a Bahia que sofre de Síndrome de Estocolmo. Essa aliança César X Wagner não interessa a César ou a Wagner, ou a Paulo Souto, e talvez nem mesmo a Geddel. Interessa a Lula. A “Governabilidade de Dilma Rousseff”. Como se Waldir Pires, ou Roberto Santos, não representassem uma governabilidade melhor e maior, e sem fisiologismos – tão boa quanto será a que o futuro Senador Aécio Neves lhe garantirá; tão boa quanto o Governador da oposição, Aécio Neves, garantiu a Lula em plena crise de 2006.

O custo de eleger Dilma pode ser qualquer um, para Lula. Foi a reeleição do pior Prefeito de Capital do país. Pode ser ficar em cima do muro entre Geddel e Wagner (isto é: entre a pior caricatura da política velha, e um dos melhores nomes da nova política). Pode ser fazer o carlismo voltar (como zumbi, porque está morto). Se preço da República é a Bahia, tudo vale – Delenta Est Canudos.