Quase Como Voar*

31/08/2009 at 7:04

bike

Certos dias pedalar torna-se um pouco mais inspirador. Alcançar a rua depois de subir a rampa da garagem vira um momento mágico, um pequeno milagre da inventividade humana. Através de uma máquina simples leve e silenciosa o asfalto desliza abaixo e o ritmo constante da pedalada mostra-se tão natural que a junção das pernas com os pedais fica absolutamente imperceptível.

Nada mais passa a existir, o trânsito motorizado no feriado paulistano mostra-se benevolente. Um certo vazio toma conta das ruas em um dia que mistura um pouco da sensação de ser sábado e ao mesmo tempo traz consigo um ar de domingo, mesmo sendo uma quinta-feira.

Movendo-se pelas próprias forças e tão velozmente, pedalar na cidade é ao mesmo tempo fazer parte do ambiente e passar desapercebido por ele. É como planar em êxtase absolutamente livre tão leve como se os pedais fossem asas. Ainda que haja um pouco de ar e borracha em eterno contato com o chão, os pés giram frenéticamente acima, sem nunca tocar o asfalto.

Certos dias – em todos? – pedalar é como ter asas nos pés, ser um pouco como Hermes. A bicicleta transforma quem a usa um pouco mensageiro dos deuses.

*texto do blog TransporteAtivo, de João Guilherme Lacerda – já hoje um clássico do cicloativismo.