O jogo do Resta-Um (ou: Voto se transfere; e rejeição, se transfere?)

13/10/2008 at 10:33

Diversos analistas (sulestinos) têm dito que o apoio de Grampinho (a.ka.: ACM, o Neto) será decisivo para o segundo turno em Salvador. Eles estão certos – de um modo inteiramente errado.

Crêem que os votos de Grampinho serão importantes, e desprezam sua castastrófica rejeição (que equivale a quase o dobro da percentagem de votos que teve). Sua rejeição não é apenas alta quantitativamente, mas qualitativamente também: os muitos que não votariam nele, dar-lhe-iam um cascudo se pudessem. Inclusive este que vos escreve.

O importante em Salvador, desde 2002, não é quem vence, e sim quem perde. Senão vejamos: Paulo Souto era a única via para o PFL eleger alguém em 2002 – justo ele, o único não-carlista, brigado com ACM e que quase saiu do partido (por vontade própria) algumas vezes. Foi candidato, mas impôs (impôs!) uma condição a ACM ( a ACM, o Avô!): “no meu governo, mando eu: você, Senador, não se meta!”. ACM teve de engolir essa, sob pena de não eleger ninguém. Paulo Souto venceu as eleições de 2002 – e ACM perdeu.

Em 2006 Wagner vence no primeiro turno de uma reeleição de um governador extremamente bem-avaliado (eu, inclusive, tenho minhas admirações por Souto e, embora não vote nele, não tenho problema em tê-lo como chefe ou líder político do estado). Ou seja: não foi Wagner quem ganhou, mas Souto (e ACM, de novo), quem perdeu.

Aí, cabe uma nota em relação a João Henrique Carneiro. Um dos derrotados do primeiro turno de Salvador foi ele, embora tenha ficado em primeiro lugar. Reeleições têm caráter de referendo: confirma-se, ou renega-se, o governante já em exercício. Tanto Walter Pinheiro quanto o jornalista Oldack Miranda têm dito que 70% da população votou contra JH, e não que 30% votou a favor – no que estão certos.

Neste sentido, também, Grampinho não tem 25% dos votos – antes, ele tem 75% dos votos contra ele. E mais: Oldack diz, e eu concordo – nem todos os Carlistas preferem a porra-louquice interesseira de João Henrique/Geddel; a capital deu quase 90% de votos em Lula no segundo turno de 2006, e mais de 70% no primeiro. É de se esperar que uma parte dos votos de Grampinho migrem, a revelia dele, para Pinheiro.

Só que o cerne da questão ainda não está aí. As eleições de Salvador agora viraram, em vez de xadrez, um jogo de resta-um: perde quem abraçar Grampinho. A maioria dos votos em João Henrique foram votos anti-carlistas – que sairão de João Henrique em direção a Pinheiro assim que percebam a aliança espúria e os modos carlistas que JH tem usado, como a judicialização eleitoral (por exemplo, tentando impugnar, hoje, a candidatura de Walter Pinheiro por crime eleitoral: eleitores dele teriam usado camisas do PT enquanto votavam – o que de modo nenhum é crime nem configura boca-de-urna).

João Henrique nem atrairá todos os votos de Grampinho, e ainda perderá parte considerável dos seus. E Walter Pinheiro ainda tem, e muito, espaço para crescer.