Outras baias, outros rios

16/05/2014 at 7:49

“Outra Bahia

Outro Bonfim, no futuro

outra Bahia:

um novo Porto Seguro;

Outra Bahia de outros carnavais

(…)

Suspensa na ponte aérea entre o Rio de Janeiro e o Ceará

(…)

‘Pra me deixar,

tem que me amar por inteiro'”

Confraria da Bazófia

E eu a amei. Amei esta cidade de ancas largas como se ama uma velha puta: incestuosamente. Amei-a até o talo, das cumeadas aos vales; gozei da Graça mas também da Pituba (que é Salvador ao contrário, e por isso Salvador ainda), da Ribeira e de Brotas, do Cabula, Dois de Julho, Rio Vermelho, Federação, Barra Avenida, fim de linha do Garcia, Barris, Nazaré, Barbalho, Vitória. Tive-a em todas as posições – ela me traiu dos melhores cornos. Meus 33 anos de vida não foram senão Salvador, mesmo quando foram outras cidades. Dela eu sei cada cheiro: do dendê fritando ao fim da tarde aos jasmins-manacás de meia-estação; dos oitis e mangas apodrecendo pecos no asfalto; do mijo no carnaval, e do suor que já não é mais seu, senão de uma multidão que sua junto.

Amo-a, talvez, ainda – mas já não é mais hora de tê-la. Quem sabe no futuro…

Estou, como alguns já sabem, num exílio auto-imposto de uma Sibéria tórrida nas margens do São Francisco, pra ver se viro um Dostoievisky tropical. Vim, é verdade, cumprir Residência em Saúde da Família, como há muito queria, nesta universidade federal peculiar que ocupa três estados ao mesmo tempo. Vim, e não sei se suportarei dois anos, mesmo sabendo que praticamente todos os meses passarei pela Reconvexa.

Mas vim, sobretudo, porque não sei quem sou apartado da Cidade da Bahia; não sei mesmo se sou algo sem ela. Vim, porque não sei.

O sertão já vem há algum tempo me ocupando os ouvidos e os paladares (e mais recentemente, as minas do meu coração: alguém com quem abri veredas junto, de afetos e virilidades tão arcaicas quanto ruínas romanas) – em todo caso, há dois amigos de infância que aqui moram.

Isto diz respeito a este blog, objetivamente, no sentido em que as postagens serão mais raras, e menos focadas nos efeitos do que resta da Reforma Cultural Bahiana; que a agenda cultural mais corriqueira, como já disse antes, têm sido postadas na página deste espaço no Facebook. Aqui tenderão a comparecer textos mais longos sobre o que, lato senso, chamo desde sempre Políticas Íntimas. E, talvez, surja um colaborador (o convite foi mais do que feito) para este espaço: alguém a quem, mais do que ter presenteado com a Metrópole Luso-Africana (o que já fizera antes a título de sedução com outros menos dignos), leguei-a como um tesouro a ser (re)velado e zelado, e me devolvido, tal qual a Arca de Trancoso, ao fim desta jornada.