As primeirúltimas conseqüências das municipais de Salvador

05/10/2008 at 8:03

Eleições são como um xadrez de tempo-estourado: não se faz com blefe, mas com um movimento de peças mútuo. Só que não vence quem dá um xeque-mate, geralmente impossível: como no xadrez de competição jogado com tempo marcado total de meia hora para cada adversário, vence quem termina o jogo não com mais peças apenas, e sim com as peças mais bem colocadas.

do site Política Livre:

O boato circulou ontem nacionalmente: O comando do PSDB pretenderia lançar uma nota nacional, na segunda-feira, manifestando apoio a todos os candidatos do DEM que avançarem para o segundo turno sem tucanos como adversários.

e do Bahia Notícias, de Samuel Celestino:

Tucanos enquadrarão Imbassahy

Se Antônio Imbassahy ficar no caminho e ACM Neto passar para o segundo turno, sofrerá duas vezes. Amanhã, nas eleições, e logo na segunda feira, por decisão nacional do PSDB. Já mirando as eleições presidenciais, os tucanos lançaráo um documento nacional, mas direcionado à Bahia, estabelecendo a obrigatoriedade de apoio ao candidato do DEM no segundo turno, no caso ACM Neto. Assim posto, como a briga entre os dois foi forte na campanha em primeiro turno, ficará de saia justa não somente Imbassahy, como o deputado federal Jutahy Magalhães Jr. Ao ex-prefeito restarão duas atitudes: cumprir a ordem do quartel general nacional dos tucanos ou, então, abandonar o partido.

Comentário:

Nada mais anti-carlista que um ex-carlista – porque sentiu na pele (por vezes fisicamente) o que é levar uma canelada, um tapa na cara em público, ou gritos, como de praxe Toninho Malvadeza (vulgo Antônio Carlos Magalhães) fazia. Mais do que isso, o PSDB bahiano é figadalmente anti-carlista. Que o PMDB de Geddel apoie eventualmente Grampinho é possível; que Jutahyzinho faça isso, é impensável. Ele que apoiou Wagner quando nem o PT acreditava, e que foi candidato apoiado pelo PT em 1998 ao governo do estado.

Só um partido consegue ser tão etnocêntrico quanto o PSDB paulista: o PT paulista. Eles se merecem! O que o alto tucanato conseguirá com tal medida xenófoba e imperialista? Fazer com que o PSDB bahiano mande mais gente pro PSB (Lídice e Domingos Leonelli eram tucanos no tempo de Franco Montoro), ou pro PMDB histórico (partido de origem de Nestorzinho, Marcelo e outros Duartes). É esse partido que quer ter a Presidência da República de novo?

e mais Samuel Celestino:

A TV Bahia anunciou a mais nova pesquisa do Ibope. Uma informação amarela, quase envergonhada, que deveria ser o carro chefe do telejornal de uma matéria véspera de eleição. O Ibope, que ficou com imagem abalada nesta campanha, como, aliás em outras, apresentou um resultado digno do velho PSD mineiro, que, segundo um cronista baiano, entre a Bíblia e o Capital, de Marx, ficava com o Diário Oficial. E no velho “não ser contra nem a favor, muito pelo contrário”, preferiu tirar o seu time de campo e oferecer ao respeitável público carlista um empate em 29 pontos entre ACM Neto, Walter Pinheiro e João Henrique. Para mim, tudo exatamente como antes acontecia. Não perde, nem ganha: criva um empate e o resto Deus decide. O Ibope desce a ladeira. E os métodos carlistas estão vivos. Hilton Coelho ficou com 4% e Imbassahy com 11%. Viva o Ibope que não mensura nada. Viva a Bahia que insiste em não mudar e bola para frente no empate da geléia geral. Uma vergonha!

Comentário:

Até o Datafolha de ontem já dá João Henrique com mais de 5% de vantagem sobre Grampinho, e Grampinho perdendo em qualquer cenário do segundo turno. O IBOPE é a Revista (?) Veja das pesquisas eleitorais…

do blog Bahia de Fato, de Oldack Miranda:

Governador Wagner rejeita chantagem política do PMDB

Os recadinhos dos trogloditas irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, donos do PMDB da Bahia, não caíram bem com o governador Jaques Wagner. O governador rejeitou a chantagem política, insinuações segundo as quais a aliança do PT com PMDB estava ameaçada para 2010 em função do clima tenso da disputa eleitoral em Salvador. Wagner qualificou de “besteirol” as declarações dos caciques baianos do PMDB. “Eu já disse o seguinte: não falo nem recebo ameaças, trabalho de outra forma, quando quiser eu faço, mas não faço ameaças do tipo “vou ficar, vou romper”, bê, bê, bê, 2010, isso e aquilo, prá mim é besteirol”, foram as palavras do governador Jaques Wagner. E disse mais: “quem quiser fazer que faça, quero dizer que a mim a temperatura não move um milímetro para esse tipo de coisa”.

Wagner citou um exemplo de boa convivência com o PMDB: ele foi ao comício do candidato do PMDB em Itapetinga, Michel Hagge, apesar da candidatura do PT no município. Wagner não citou, mas, poderia ter citado também um exemplo de boa convivência do PMDB com o PT. O capitão Fábio, candidato a prefeito do PMDB em Itabuna, acaba de retirar sua candidatura para apoiar Juçara Feitosa, a candidata do PT.

Em Itabuna os ataques asquerosos do DEM foram tantos que o capitão Fábio (PMDB) renunciou para apoiar Juçara Feitosa, a mulher de Geraldo Simões (PT), aquele contra quem a revista Veja inventou descaradamente duas “reportagens” afirmando que o PT tinha introduzido a praga “vassoura-de-bruxa” nos cacauais da Bahia.

Comentário:

Wagner definitivamente não é Lula: ele diz o que precisa ser dito, e nem por isso tem menos habilidade diplomática – sem os arroubos raivosos de Ciro Gomes. Ir ao comício de Michel Hage, a revelia de seu próprio partido, o PT, que em Itapetinga disputa a prefeitura tendo na chapa um ex-carlista de última hora, é uma estratégia digna de Getúlio Vargas: imobilizar os inimigos íntimos com um abraço fraternal. Geddel não pode dizer que não contou com o Governador por lá – e ao mesmo tempo Wagner marca, sutil mas claramente, que Hage, anti-carlista que fez parte do governo Waldir Pires e foi contra a saída deste precocemente do cargo, é (e de fato é) mais próximo dele, Wagner, do que do fisiologismo de Geddel. Ao mesmo tempo em que contemporiza, desempoderiza.

Agora, marcou claramente ao PMDB de Geddel que não vai tolerar práticas carlistas (ameaças e chantagens) mesmo em quem se diz há tempos anti-carlistas. A questão não é dele, Wagner, e sim de um novo tempo, cívico e finalmente fora da barbárie – com ele ou sem ele. Postura de Estadista!

Num outro episódio, quando Carlinhos Rodemburgo foi preso com Daniel Dantas, Wagner teve a postura que Lula deveria ter tido, se não fosse frouxo. Carlinhos é ex-marido de Fátima Mendonça, com quem Wagner é casado. São bons amigos. No entanto, disse o governador rapidamente: “Somos amigos, só que isso não quer dizer que eu tolerarei crimes de amigos. Se ele for provado culpado continuará a ter meus afetos mais sinceros, mas deverá pagar pelo que fez”. De novo, externalismo cívico, impessoalidade, como cabe a um estado que se digne a ser chamado de estado.

Em tempo: sulestinos, tirem o olho-gordo! Wagner não quer ser, e não vai ser, candidato a Presidente da República. O trabalho aqui ainda é longo e árduo, e ele sabe que ele pode falhar em tudo, menos no mesmo em que Waldir Pires falhou: ficar com sede de poder e largar o governo do estado pela metade. E sim, 4 anos, para quem teve 40 de ditadura militar, é “metade do governo”.