Eu vi, eu vi: João Henrique se mancomunando com Grampinho!

29/09/2008 at 21:43

Ontem, no debate da Record. João Henrique (PMDB) pergunta, escolhe perguntar pra Grampinho. A pergunta é mais ou menos assim: “O candidato ACM Neto não acha estranho que o PT e o PSDB, que participaram de minha gestão e escreveram alguns dos ítens do PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano), estejam agora criticando este mesmo PDDU e esta mesma gestão?”. Aí a resposta de Grampinho foi espinafrando o PT e tecendo loas e aleluias ao PDDU criminoso aprovado macabramente madrugada a dentro, e que vai fazer com que a Avenida Luís Viana Filho (Paralela) tenha engarrafamento até dentro das garagens. Tréplica de JH, no mesmo tom.

Sim, sabemos que o PDDU teve mais apoio do PFL do que da base de JH. E eis aí a diferença fulcral de JH para Wagner. João Henrique atacou óbvia e sistematicamente a superestrutura do carlismo: sua mentalidade, seu modo de agir. Mas não a infraestrutura, o “de onde é que o dinheiro vem”, que no caso de Salvador é a especulação imobiliária que deu à cidade, do Rio Vermelho pra cima, um recorte americanóide e algo candango que inviabiliza qualquer tentativa de resolver o transporte – coletivo ou individual, público ou privado – por exemplo. Eis um dos traços do hibridismo nem nordeste nem sudeste de Salvador: ao contrário do que crêem recifenses e cariocas, o carlismo nunca se manteve pelo latifúndio, mas pela especulação urbana. A expansão em direção a Camaçari se deu com doação de terra pública pra OAS e Odebrecht, ambas empresas em que ACM tinha participações. O inimigo do carlismo não é tanto a reforma agrária – mas a reforma urbana. E nisso somos semelhantes a, só que piores do que, o Rio de Janeiro.

Wagner, ao contrário, silenciosamente tem atacado os nichos de sobrevivência monetária do carlismo – que consequentemente desmonta a mentalidade carlista. Especialmente a industria cultural (que gerou 20 anos de ditadura do Axé Music), o centralismo hospitalocêntrico do SUS baiano, o isolamento geográfico do extremo-oeste, e a falta de água crônica do semi-árido. Além, claro, do analfabetismo em adultos (o TOPA – Todos Pela Alfabetização – é hoje o maior e mais eficiente programa de letramento de adultos das Américas: só esse ano foram 170mil adultos que aprenderam a ler e escrever. A meta, facilmente cumprível e superável, para 2010 é de um milhão de pessoas).

Algumas conclusões podemos tirar desta aliança potencial e tácita entre Grampinho e JH. Geddel Vieira Lima já havia dito que num segundo turno JH X Walter Pinheiro (PT), ele iria buscar apoio do carlismo. Depois desconversou com um tom jucelinista a lá Tancredo Neves: “a gente não escolhe quem apoia a gente”. Ora, Geddel quer ser governador da Bahia. Quem elegeu Wagner foi muito mais o PMDB do interior, anti-carlista, do que o PT. Só que o PMDB na Bahia é, mais do que no resto do Brasil, dois: um histórico, aguerrido, centro-esquerda, que elegeu Waldir Pires em 1986, e vê em Wagner uma tentativa de desforra; outro fisiológico, anti-carlista de ocasião, que elegeu o vice de Waldir Pires, Nilo Coelho, ladrão ezeiro e vezeiro. O PMDB histórico jamais deixaria de apoiar Wagner para apoiar Geddel (o vice de Wagner faz parte dessa ala, Edmundo Pereira, a quem Wagner agradeceu publicamente quando de sua posse). Em último caso, migrariam todos para o PSDB (que aqui, repito, apoia o PT e não pretende usá-lo, a principio, para alpinismo político) ou para o PSB (ideologicamente, o partido mais próximo do PMDB histórico da Itapetinga de Michel Hage – sim, parente do Ministro da Controladoria Geral da União).

Contudo, as consequências não são meramente regionais. A campanha em Salvador esse ano é a única em que todos os grandes partidos têm candidatos próprios, em alianças com localização clara no escopo direita-esquerda. Um Geddel próximo do carlismo forçaria o PSDB para ainda mais junto do PT – o que daria um tilt na cabeça do país (a exceção de Minas Gerais, sempre o estado mais apto a compreender o hibridismo regional bahiano). E provocaria uma fratura dificil de cerzir na base do Governo Lula (curiosamente, não no de Wagner, cuja habilidade diplomática não cessa de me embasbacar).

Não sei não, mas parece que boa parte da lógica política de 2010 será traçada a partir das eleições na rediviva Terceira Capital da Nação. E tome-lhe anti-paulistério!