Roleta-russa Política

02/12/2009 at 18:58

A pressa & o expresso: presuntinho assado.

A pressa & o expresso: presuntinho assado.

Do Terra Magazine (de tempos atrás, mas vale reler diante dos novos fatos):

(…)

Mas e a história da rádio…?
Meu filho, o problema não é o Lula, que é amado pelo povo, nem o governador…

O Jaques Wagner?
Isso, ele é bem bonitão, sabe? É simpático, o povo gosta muito dele também. Acho que até porque sabe que ele também gosta de uma pingazinha, como o povo também gosta…

…se o problema não é Lula, se não é o Jaques Wagner, então qual é o problema?
O problema aqui, meu filho, é o Geddel.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima? Mas por que ele é o problema se as decisões sobre o rio são tomadas acima dele?
Sim, mas ele se dizia contra a Transposição… aí arranjou esse emprego bom e ficou a favor. Mas isso não foi o pior, não…

O que foi, então?
Ele foi muito deselegante com o bispo, e o povo gosta do bispo. Ele foi mal comportado, não é flor que se cheire. Ou, como diz o povo daqui, Geddel não é boa abelha, não!

(…)

Ninguém ouviu uma palavra dele, tiraram a rádio do ar, dizem que foi o governo, ele nem ficou na cidade, não protestou…
…(Gargalhadas) Meu filho, quem tirou a rádio do ar, rádio que é da igreja, foi o bispo mesmo, para não ter que falar da festa. E o bispo falou o dia inteiro, a cidade inteira ouviu, de tempos em tempos, o dia todo…

Mas falou onde?
Falou com os sinos da igreja…

Como?
Falou com os sinos, eles tocaram o dia todinho.

A senhora me explica melhor, por favor, Dona Joana?
Meu filho, os sinos tocaram, dobraram o dia inteiro…

Dobraram o quê?
(Gargalhadas) …Dobraram a Finados. Teve festa pro Lula, pro governador, mas os sinos daqui da Barra dobraram a Finados o dia inteiro. Para o Geddel.

Dissemos já aqui antes, e alhures: Geddel Vieira Lima não se elege nem prefeito de Jacobina, caso queira. Mas, garganteia-se (e há quem creia, na capital especialmente), que “Geddel tem força no interior”.

Pergunto-vos: que interior? – já que a Bahia tem desde cerrado a extremo sul, Recôncavo, alto sertão, São Francisco, etc.

Diziam: “no Recôncavo”. Em Cachoeira, durante a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, só vi faixas contra o prefeito Tato, do partido de Geddel, senão contra o próprio Ministro. Há duas semanas, no Embalo D’Ajuda (a mais cachoeirana de todas as festas), se dizia que no Recôncavo nem voto pra deputado federal ele teria.

Outros dizem: no sertão! Vá ao Vale do São Francisco: só da Geddel!

Pelo episódio acima relatado, notamos que sim. Dá Geddel até nos sinos de luto da igreja…

* * *

Disse que o fato era velho e ganhava interesse agora com fatos novos. Fato novo: o já conhecido Expresso da Propina, sobre o qual a Clã Vieira Lima e a Clã Barradas Carneiro mantém um silêncio de mausoléu – silêncio, diria, Serrista, destes que se ouve madrugada adentro no Palácio dos Bandeirantes, no luxuoso bairro do Morumbi paulistano.

Mas não me referia só a isso. Geddel vai ter de enfrentar, se candidato ao governo, quatro gigantes políticos da Bahia: da direita não-ditatorial de Paulo Souto, até a centro-direita socializante de Roberto Santos, passando pelo socialismo miterrandiano de Waldyr Pires, até o neo-trabalhismo de Jaques Wagner. Repito, sem ideologias, que são quatro titãs, cada um com estilo próprio, inteligência política, e capacidade de agregação.

Geddel, vale lembrar, nunca foi senão prefeito. E já teve menos votos dessa vez pra deputação federal do que das outras. É luta de formiga contra quatro mastodontes. E sem ter a mínima munição discursiva, e com o peso morto que é o Prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro.

É como fazer roleta russa – com todas as balas no tambor. E aí, repito: o grande embate do ano que vem é entre Paulo Souto e Jaques Wagner. Isto é: o carlismo, em métodos, hoje representado por Geddel, tá fora do páreo.

Em tempo: fiz um pacto com uma amiga, carlista ideológica. Se o segundo turno for Geddel X Paulo Souto, me filio ao PFL; ela, se for Geddel X Wagner, diz que entra pro PT, espontaneamente. E como eu e ela muitos carlistas e anti-carlistas pensam: qualquer coisa, menos Geddel!

Ah, como em toda aposta, nem eu nem ela acreditamos num cenário quetal. Sabemos que em Novembro de 2010 estaremos, de novo, em lados adversários…

O curioso disso tudo é que Geddel seria o sucessor natural de Wagner em 2014, e teria uma das vagas ao Senado este ano. Com a pressa, perdeu ambas as possibilidades. Em política, como em psicanálise, noção de tempo lógico é crucial.