O pós-pasto do FIAC

29/10/2008 at 22:50

O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia ainda não acabou. Mas como não devo ir a mais nenhum espetáculo, algumas conclusões já se me apresentam:

1) o teatro bahiano nada deve ao melhor teatro feito no mundo, hoje, quer em técnica, em estética, em recepção e em temática. Isso eu já suspeitava (não se tem a melhor escola universitária de teatro da América Latina, a UFBA, por acaso), e ficou claro quando vi a montagem de Peter Brook para um texto de Athol Fugard. Brook de fato é magistral em seu preciosismo técnico; fora isso, uma tal montagem poderia ter sido identicamente feita pelo Bando de Teatro Olodum ou pelo Núcleo do Teatro Castro Alves;

2) por outro lado, o teatro brasileiro deixa muito a desejar ao teatro bahiano. A temática é de um abstracionismo elitista, pra não dizer nefelibata e alienada, no mais das vezes; a técnica e a estética, anti-narrativa e anti-realista, afasta o público menos afeito (isto é: os pobres). É um teatro pra classe média que se acha culta continuar se achando culta, sem ser forçada a refletir e sem entender bulhufas. Isso também já suspeitava, no entanto o premiado Por Elise, do grupo belohorizontino Espanca!, deixou isso claro. Não defendo com isso um teatro didático, panfletario e de um recurso popularesco tatibitati (como por vezes se faz no Recife); e sim um teatro feito para e pela população local, com recursos locais e com temas relevantes localmente. Por relevantes localmente não quero dizer bairrismo político. A montagem do Vila Velha para Sonho de Uma Noite de Verão, usando elementos da cultura nagô e yorubá num texto integral de Shakespeare, já contempla isso sobejamente.

Salvador tem a enorme vantagem de ter seus melhores teatros que abrigam companhias, no centro da cidade. Herança de Edgar Santos, que dizia que os campi de artes da UFBA tinham de ser no rés da rua do bairro movimentado do Alto do Canela, centro de Salvador. Isso torna acessível as salas (gratuitas, no caso da Escola de Teatro) para a população em geral, especialmente a mais pobre. Fora que muitos destes núcleos foram formados pela população empobrecida que morava no centro da cidade, na Gamboa, no Pelourinho, no Calabar. Refiro-me ao Cabaret dos Novos (do Teatro Vila Velha e do Bando de Teatro Olodum) e ao Teatro XVIII, por exemplo;

3) Salvador, com o FIAC e os outros cinco eventos culturais de envergadura internacionou que abrigou, simultaneamente, no mesmo mês de outubro (o Boom Bahia Music Fest, o Festival SalaDeArte de Cinema, o 10 Dias de Cultura e Cidade, e o Latino-americano de Teatro, além do FIAC) – Salvador mostrou que é uma cidade gente-grande, que não só deixou de ser provinciana como sabe ser Capital do Mundo, quando precisa e quer, sem soberba e com uma discrição que chama atenção.

Recomendo a quem interessar possa, que faça as malas pra Salvador em outubro de 2009: o FIAC e o Boom do ano que vem prometem, e muito!