O Grande Momento

27/10/2008 at 21:07

Agora que a barafunda acabou, pequenos reforçadores. Texto de Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo. Político a que muito admiro, quase um estadista – e do PFL!

Sim, sou capaz de elogiar até o PFL das poucas vezes em que ele deixa de ser feudo-patriarcal, e é de direita liberal. Isto é: pensa o Estado enquanto Estado, e não enquanto fonte de locupletação de renda e perpetuação escravocrata.

Repito: tudo de que o Brasil precisal, é um partido de direita de verdade. Isto é: nacionalista, pra começar. Só no terceiro mundo a esquerda é nacionalista, e a direita não. No lado de cima do globo, é a esquerda que é internacionalista.

Chegou a hora. Faltam cinco dias. Tempo suficiente para uma reflexão profunda. Domingo, dia cinco de outubro, eleições municipais nas cinco mil quinhentas e sessenta e três cidades.

Se forem abandonados os constrangimentos de sempre, impostos pelo patrulhamento dos politicamente corretos, um traço de bom orgulho cívico deve permear as consciências.

Eleições, nestas terras, oferecem espetáculo único. Em um só dia, cerca de cento e trinta milhões, quatrocentos e sessenta e nove mil, quinhentos e quarenta e nove eleitores são chamados às urnas. E comparecem. Abstenção é tradicionalmente baixa.

Os pessimistas de sempre dirão, de pronto: o voto é obrigatório. Em termos. As multas são ínfimas e tradicionalmente, após um pleito, surge uma anistia.

Sabe, pois, o eleitorado ativo não correr risco pela sua ausência – ainda porque pode justificá-la. Vai votar porque valoriza este momento superior da cidadania.

O brasileiro possui tradição eleitoral. É tão antiga quanto à própria existência do Brasil europeu. Com a chegada dos portugueses, a partir de 1532, data da fundação de São Vicente, vota-se abaixo do Equador.

Não é só. A partir de 1933, quando da publicação de um Código Eleitoral, as práticas eleitorais foram continuamente se aperfeiçoando. Primeiro, as cédulas individuais. Depois, as chamadas cédulas únicas.

No momento contemporâneo, o voto digital. A urna eletrônica, em sua simplicidade básica, é avanço notável. A segurança na captação de votos, presteza e confiabilidade na apuração.

Não é só, porém. Os próprios usos eleitorais se qualificaram. Os candidatos ao Executivo municipal, em geral, apresentam bom nível de escolaridade. Expõem com clareza suas intenções. Usam um discurso respeitoso.

Não atingiram, contudo, melhor patamar os candidatos a postos nos legislativos municipais. Há um traço naif – permita-se o galicismo – para se evitar o vernáculo: traço primitivo na maioria dos concorrentes.

É preciso dar tempo ao tempo. A democracia é processo de aprimoramento do civismo. Só pelo seu exercício continuo, patamares podem ser vencidos. A qualidade dos pretendentes à vereança deverá melhorar paulatinamente.

Apesar desta observação, com traço melancólico, pode-se admirar a outra face da moeda. Os candidatos às Câmaras Municipais surgem, em geral, dos segmentos mais deprimidos da sociedade.

As campanhas eleitorais permitem uma integração destes candidatos com as comunidades onde vivem. Torna-se a eleição instrumento de inserção social, particularmente nas grandes cidades e nas megalópoles.

A análise desta campanha, em seus dias derradeiros, é positiva. O aperfeiçoamento dos costumes eleitorais é flagrante. Já não se faz política com emoção. Certa racionalidade ingressou no jogo cívico.

Onde estão as grandes questões? Elas não foram apresentadas aos eleitores. Vota-se por impulso. Com pouca atenção sobre a vida pregressa dos candidatos.

Esta observação é particularmente válida quando se trata de Câmara de Vereadores. Vota-se sem convicção. Escolhe-se sem profundidade de análise.

Aqui o grande equívoco. O colégio eleitoral ativo – o eleitorado – precisa se debruçar sobre as listas partidárias. Examinar os nomes oferecidos à escolha do eleitor.

Entre figuras folclóricas e de inusitada simplicidade, existem personalidades ilustres que poderão fazer a diferença. É preciso alterar os costumes de nos legislativos municipais. Cabe aos eleitores.

A democracia contemporânea se realiza, especialmente, por via de conflitos entre os múltiplos segmentos sociais. Busque-se o melhor, no segmento onde o eleitor encontra abrigados seus interesses. E vote-se.

Divagações sobre eleições são muitas. Na verdade, o ato de votar é momento único e individual. Ninguém deve se imiscuir na intimidade do eleitor. Esta a verdade.

Uma tranqüilidade surge, a partir desta observação. Os resultados, a serem proclamados, na noite do próximo domingo, em qualquer direção partidária, indicarão os melhores.

Foram os escolhidos pela cidadania. Esta, apesar das eventuais aparências, em contrário, nunca erra. É a vontade soberana do povo, a ele cabe indicar seus próprios caminhos.