Veganismo, má-consciência burguesa & ignorância geo-nutricional
Não que uma dada classe média (alta) vegetariania radical (em que pese o dito movimento ter entrado no Brasil através do proletariado sintaticamente alienado e importacionista ligado ao Hip Hop) seja numericamente expressiva, ou apesar de crescente vá representar algum dia uma faixa demograficamente expressiva. Nem que sejam um movimento político coeso e com capacidade de combate (isto é: de elaborar estratégias e dentro delas táticas) – bem ao contrário, parecem jogar resta-um sobre um tabuleiro de go.
Justamente por isso vale refletir a respeito dos ditos Vegans: são um sintoma de uma certa esquerda ao mesmo tempo sub-marxista mas que não chega a ser festiva (leia-se: fourierista), mas que também não tem seus impulsos subversivos advindos de privações e necessidades reais e peremptórias. Enquanto sintoma, são iguaizinhos ao ateísmo colonizado e positivóide que agora deu para apoiá-los, e que se intitula (acriticamente) “Humanismo Secular”. Gosto de chamar este pobrismo ideológico, que corporalmente se alimenta de cogumelo shitake comprado em delicatessens caríssimas (nada contra: eu também compro, mas eu não pretendo – no sentido também de finjo – fazer voto de pobreza), de carmelitismo canhoto – mister não confundir com os franciscanos, que na verdade fazem um elogio da riqueza e alegria interior.
O discurso vegano pode ser reduzido a um fraseado de má-consciência burguesa: “agora que os pobres (do Brasil, da China e Índia) podem comer bife de carne de vaca, não devem”. Para justificar tal postura (que chega ao esdrúxulo de combater a vacinação universal infantil, isso em áreas altamente civilizadas como SanFrancisco, na Califórnia) vale o discurso misticóide de absolutização do amor universal (“nenhuma espécie tem direito de sacrificar outra” – como se fosse uma questão de direitos…!) até argumentos canhestros sobre política alimentar de larga escala que não deixam de ser malthusianos (“produzir proteína vegetal custa dez vezes menos água e espaço do que produzir proteína animal” – como se o problema fosse de produção, e não de distribuição).
É tenebroso que a contra-cultura setentista, que de idealista passou ao pragmatismo da tecnologia de fonte aberta, mídia-livrismo, movimento GLBTT e pela descriminalização das drogas, tenha dado uma volta revolucionária no mau-sentido e agora defenda privar as crianças do consumo de ovo e da vacina contra a poliomielite (a custa, claro, dos filhos dos pobres continuarem a ser corretamente vacinados – terceirizaram a proteção biológica). Mas não chega a ser surpreendente: a ex-subversiva Península de Santo André e Baía de Golden Gate, morfologicamente irmã da minha insubordinada Salvador, sucumbiu a própria riqueza, gentrificou-se. O Castro não tem uma sauna digna do nome; e se o Haight-Ashbury continua autêntico (o fato de ser periferia é um trunfo, uma desterritorialização positiva), é sob pena de sequer vender cerveja em seus cafés que no entanto vendem maconha certificada, camisetas tie-die e, oh!, hambúrguer de soja orgânica. É uma Pituba pra viado criar filho e envelhecer mão-na-mão (ou um Leblon/Gávea – não Ipanema, que ainda tem qualquer coisa de bicha rica tresloucada que a esquizofreniza e eu gosto). Sua excelente qualidade urbana derivou numa cidade tão chata quanto Curitiba.
Já o argumento da produção de boi em larga escala não deveria se aplicar na pátria de Josué de Castro – este recifense que foi um dos que instou a criação da FAO na ONU. São dele dois conceitos cruciais para compreender a indústria da fome: que fome não é estarvação, porque há fome específica; que fome dá lucro, porque é gerando escassez que se especula sobre a superabundância alimentar. Portanto, caro vegan, se os pobres comessem mais carne poderíamos paradoxalmente produzir menos boi – desde que a ampliação do consumo adviesse da melhor distribuição, do impedimento canino pelo Estado de que o Capital especule com os víveres e comodities alimentares. Ao invés de enfrentar este inimigo bem real, os veganos enfrentam fantasmas, o que não só não leva a nada como acirra o problema, criando mais uma (ou talvez mais de uma) fome específica numa população que deveria estar livre dela (o que não deixa de ser uma sinédoque da anti-vacinação infantil que eles pregam: a volta de doenças numa população que já vivia sem estes riscos a mais de uma geração).
Josué de Castro havia observado a tautegoria da pobreza, que é a mesma da fartura amazônica mas se dá nos restos de sertão que chegam a megalópole Mauriceia da foz do Capibaribe: os moradores de beira de mangue se alimentam de caranguejos que um dia se alimentaram das fezes dos moradores de beira de mangue que irão comê-los – não deixa de ser um Belo Monte (Canudos) às avessas. Mas ainda assim Castro via nisso uma positividade: proteína e fosfato não faltariam aos miseráveis de Pernambuco; um vegano veria a mesma cena, se ofenderia, tomaria a defesa do caranguejo, intimamente desejaria que o miserável comesse a própria bosta – e depois iria ouvir MangueBeat sem se dar conta da contradição em termos. Seguindo ainda outra máxima do grande geógrafo: se no Brasil há os que não comem e os que não dormem por medo dos que não comem, os vegans resolveram a contradição por silogismo – deixaram de comer pra ver se conciliam o sono.
Talvez o veganismo não passe do amor das dondocas aos bichons-frisés, só que invertido e levado às últimas conseqüências. Se estivessem realmente interessados em combater a exploração animal, buscariam inimigos reais e nomeáveis. Por exemplo, se dariam conta que o trabalho humano em abatedouros é dos mais espoliantes e mutilantes e menos regulados do país (teriam pena dos trabalhadores humanos que lá têm seu ganha-pão, ao invés de se identificarem com o porco estrebuchante) – e passariam a incentivar não a não-ingestão de carne, mas sua compra em feiras e pequenos abatedouros vindo de pequenos criadores. Que aliás constumam abater seu gado com mais cuidado, já que seu lucro está na qualidade e confiabilidade. Em Itapetinga, na Bahia, se abate o boi dormindo no pasto com um tiro a distância – sofrimento nenhum, carne ultra-macia.
Ou incentivariam o consumo de proteína animal indireta (não me venham com “ovo-lacto”!), e comprariam a briga contra o binômio ANVISA / Grandes Laticínios ao lado dos pequenos produtores de queijo artesanal de Minas, que não podem circular seus produtos senão clandestinamente uma vez que feito de leite cru tirado a mão de vacas que atendem com doçura quando chamadas por seu nome. É a grande indústria do leite que espolia pequeno produtor (cuja fazendinha fica ociosa metade do dia, se não for produtora de queijo artesanal) e as vacas leiteiras em nível industrial. Comprando esta briga, os vegans incentivariam o consumo de queijo de feira (os estados do nordeste também produzem, embora menos sofisticados que Minas Gerais), longe das certificações que o Estado garante aos pasteurizados mortos e morificados, queijos como alimentos vivos, cuja longevidade e conservação são garantidas por serem queijos curados (isto é: vacinados biologicamente por bactérias, uma tecnologia manufatureira milenar) mais saborosos – agindo aí sim anarquisticamente e autonomisticamente, sabotando as formas-Estado e o Capital, como arrogam fazerem enquanto compram quinua real no Pão de Açúcar.
São lutas mais viáveis, e mais alegres – mas como são reais, dão um trabalho de reflexão e ação a que os deprivados de canja de galinha e os criados a missou com alga não estão dispostos por talvez falta de energia fisiológica. E notem: falo como alguém em cuja residência não entra “bicho morto” – sequer sob a forma de embutidos (essa tecnologia secular dos povos de fronteira para deixar as carnes conservadas e prontas para uso sem requerer fogo e preparo, e que por isso as Gerais e as Serras e Pampas Gaúchos dominam tão bem!). Porque carne é uma forma pouco durável de proteína animal, e que dá trabalho de preparar, o que torna ineficiente para quem mora sozinho. E quanto mais anterior na escala evolutiva, mais volátil é a carne embora mais saudável: peixe estraga mais fácil que frango, etc.
Nem me venham com o argumento anti-culinário de que o que dá sabor é o tempero: sabor implica em textura, e a de uma maminha de alcatra, corte alto e levemente mal-passada, é insubstituível até para mim que só como carne vermelha quatro talvez cinco vezes ao ano (tanto quanto a textura da macaxeira de Noca, em Olinda, é inolvidável). Nem com a pergunta fatal: “você comeria carne humana?” – claro que comeria! O que aliás me dá um argumento terminal anti-vegano: contra esse vegetarianismo pequeno-burguês e cheio de culpa cristã, busquemos uma antropofagia aquém e além oswaldiana. A crueldade não é algo de que a espécie Homo Sapiens deveria se envergonhar, desde que bem usada, já nos ensinava o zen – comamos pois as tripas do Capitão Cook (ironia dos nomes, diria Guimarães Rosa em seu Ave, Palavra) no desjejum.
Juro que nunca vi alguém escrever tão mal quanto você.
Já disseram o mesmo pra James Joyce. Tomo como elogio.
Seu texto é de uma asneira imensa! você não sabe o que diz. Tente estudar um pouco mais sobre os malefícios de se comer carne, sobre os malefícios para o meio ambiente em se criar gado… tente pensar na cadeia alimentar (se é que você se lembra das aulas de biologia) onde é que está a maior fonte de energia (no topo ou na base ?). Tente pensar que você não tem garantias de que a carne que você come vem de uma zona da floresta amazônica devastada para se criar pasto (e nem vou entrar no detalhe do que a floresta devastada pode causar no clima, por exemplo).
Tente pensar que a soja que é plantada para produzir ração pra boi que vai alimentar pouca gente, poderia ser usada para alimentar pessoas que passam fome.. ou que as áreas de pastagem também poderiam ser usadas para isso. E que as pessoas que trabalham em abatedouros poderiam trabalhar nas plantações.
Pense que para abater, isso, só para MATAR uma ÚNICA ave, a indústria consome cerca de 60L de água. Sem contar o que foi usado para ela crescer. A crise de água está aí em São Paulo…
Ser vegetariano/vegano é pensar a cultura, coisa que dói, põe o dedo na ferida. Mas para você, em seu texto coxinha (“ai eu quero meu churrasco na churrascaria mais cara da cidade, quero esbanjar, quero agregar…”), é mais fácil criticar quem realmente pensa e não concorda com com malstratos e não vê o ser humano como superior a nennhum animal só por ser racional do que mudar seus hábitos.
O problema do veganismo não é a carne – se o fosse, seria fácil de resolver. O veganismo propõe por exemplo o não consumo de derivados de leite – sendo que as únicas civilizações tradicionalmente vegetarianas (a hindu e a islâmica) consomem quantidades imensas de laticínios. (Sobre isso, sugiro a leitura de Michael Polan, “Em Defesa da Comida”).
Mas ainda voltando a carne: eu tenho como garantir que a carne que eu consumo vem de pequenos produtores da Bahia, porque só compro carne não-certificada em feira (jamais em supermercados ou açougues), com métodos tradicionais de conserva: salgamento, secagem e defumação.
O fetiche vegano com a soja é tanto ou mais incentivador da indústria alimentar quanto uma alimentação acriticamente onívora – aliás, nenhuma civilização nunca consumiu soja in natura ou teve na soja a base de sua alimentação. Os povos do oriente extremo, únicos que tradicionalmente usam soja em sua culinária, a usam como tempero e quase sempre fermentada (tofu, missou, etc) – e nem por isso abdicam do consumo de proteina animal (embora curiosamente não consumam nenhum laticínio).
Ser vegan pode ter algo a ver com a cultura (no sentido de hábitos civilizatórios), mas não no sentido de pensar – suas reflexões sobre a civilização não são mais rigorosas ou válidas que qualquer outra asserção religiosa. Inclusive, como se vê em sua resposta, é um “pensamento” refratário a críticas e que não é capaz de se modificar quando apresentado a fatos novos de áreas correlatas (economia, geografia, etc.)
Para concluir, lembro que minha crítica ao veganismo (como aos GLBTTWZ-KY e a tudo mais) é sobretudo antropófaga e anti-humanista: não dou qualquer valor especial ao Homo Sapiens, acho a idéia de Homem e Humanidade um mito burguês, e comeria carne humana com gáudio & regozijo.
Você me representa!
Prezado Autor do artigo,
O Veganismo é um movimento radical que se assemelha a uma religião extremista.Para eles, só há uma única salvação : a penitência de carne e a militância na internete para a difusão da “verdade”.
E é exatamente decorrente das características de como esse movimento se dá, como um movimento cego e incapaz de compreender a realidade e , ao mesmo tempo, desprovido de qualquer articulação política ou organizada, posso dizer qual será o seu fim : um movimento ridicularizado por todos e sem ação política.
O vegan que cresceu hj, muito influenciado pela exposição realizada pela Mídia de animais domésticos sendo utilizados como cobaias( vide o caso Beagles), é o consumidor do MC lanche feliz de manha.
Sem consciência da complexidade da realidade e sem organização política, todo movimento que busque alterar ou transformar a realidade está fadado ao fracasso.O veganismo, na qualidade de sub-movimento – não está alheio a isso.
Texto perfeito, exprimindo uma idéia fantástica, com uma clareza indiscutível. Não tenho nem palavras para definir com precisão. Parabéns! Já está nos favoritos!
Só vejo um problema no teu texto, que não é a prolixidade (dificulta) nem o tom ofensivo (bem-sucedido, por sinal, para muitos conhecidos que leram): reconhecer um sujeito-vegan-padrão, como se para todos os que não comem carne as motivações fossem as que estão aí. Aliás, até reconheço este tipo de indivíduo dentro do movimento pró-libertação animal, mas que todos os outros pensam desta mesma forma seria acreditar demais na possibilidade da representação política – de que todos se sentem contemplados por essa abordagem “mais tradicional”.
Eu mesmo saí há pouco do veganismo, porque cheguei a conclusões muito parecidas, olhando para mim e para algumas das pessoas ao meu redor. Muitos destes, inclusive, fazem questão de não comprar o bife de soja da Sadia e preferem a feira. Do mesmo modo, a feira não deixa de ser só mais uma opção de consumo e, embora eu a prefira, pensar em ajudar os produtores de queijo de Minas é uma escolha tão ineficiente (e me parece ter a mesma origem) quanto o veganismo, já que nos dois casos temos pouquíssimas pessoas acreditando que aí está um boicote ao capital, um grande feito.
Se desisti do veganismo tem a ver com a desilusão de que qualquer revolução aconteça, ainda mais se for pelas vias do consumo. Desengajei, “alienei”, ou o que quer que seja. Fudeu, já era. Pra nós, pras vacas e pras bactérias (com vacina ou sem).
Quem quer revolução são vocês, no sentido de Genet. Eu quero subversão – do sujeito na dialética de seu desejo (que é, por definição, insatisfeito: não cessa de não se inscrever). De resto, satanizar o consumo é não ter lido os Grundrisse – essa esquerda que sofre de aletria e só conhece Marx de orelhada…
De positivo no texto só mesmo o talento natural do autor em mascarar a falta de argumentos com uma linguagem bem rebuscada. No mais, simples prolixia e ironia pouco inteligente (e. g. “um vegano veria a mesma cena, se ofenderia, tomaria a defesa do caranguejo (…)”).
A propósito, não sou defensor do veganismo. Como carne quase diariamente.
Ah, e sobre suas menções honrosas citadas acima: o Ronaldinho Gaúcho já foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras.
E, por óbvio, eu jamais concorreria a um certame realizado por essa Casa…
Lucas, acho muito válidas as suas provocações. Hoje só é possível ser radical entre os pares. Dizer algo que incomoda aos demais é proibido. Quando o assunto é ecologia e todas as suas derivações, então, é ainda mais complicado dizer algo a respeito que não seja de apoio a este mito pós-moderno. Por isso não vou perder tempo aqui escrevendo o que discordo do que colocou. Acho mais importante dar procedimento ao debate. Recomendo a você, e aos demais caso se interessem, a leitura deste texto, “Ecologia, a fraude do nosso tempo” http://passapalavra.info/?p=53719, da série “O Mito da Natureza” http://passapalavra.info/?p=48913 e, caso queira ir mais além, leia também “MST e agroecologia: uma mutação decisiva. 1) 1984-1995” http://passapalavra.info/?p=53997. Abraços.
Além de prolixo, vc escreve muito mal.
Quanto ao conteúdo, você é apenas mais um radical extremista, sem qualquer equilíbrio.
De fato, escrevo mal. Alguém avise a Marina Colasanti, Zila Bernt e Miguel Sanches Neto que esse lance de ficar me dando prêmio e menção honrosa tá por fora.
E sou radical: propus que a principal, quiçá única, fonte de alimentação humana seja animal, não é mesmo?
De resto, pae: seu ad-hominem comeu no centro mais que pagodão em festa de largo. Um cheiro no cangote!
[…] vertentes (inclusive, e finalmente!, o pagodão), a e-music tornou-se uma ideologia burguesa, um neo-neoclassicismo fugere urbem, eivado de veganismo – esse tratamento que os maconheiros do campus de São Lázaro dão ao Vale do Capão (na […]
Lua: “Achei que textos tão radiciais quanto esse seu não levam a nada. Completamente estereotipado, jocoso e raivoso, não busca entender os motivos do outro e nem contribui com a discussão”
Lucas: “São pra te comer melhor, chapeuzinho!”.
Jânio!
Texto preciso, as falhas do veganistas são várias, mas tem quem corre pelo certo, o texto foi pontual: trabalho de base ninguem quer fazer né?
Nao entendi o final: não faltam exemplos de tradiçao vegetariana bem sucedida, taí a milenar cozinha budista chinesa q n me deixa mentir e a voluptuosa Tailandia misturando fruta até n poder mais.
Boa parte da culinária yorubá também é é vegetariana. O problema é o vegetarianismo cristão peti-bourgeois.
Lucas, tu como um intelectual arrogante não deveria cometer um erro na palavra mais banal francesa, PETIT…
Tu escreve bem, mas deveria baixar a bola e não esculhambar quem comenta no teu blog…
Não sou arrogante, embora seja pedante. Erro de digitação acontece, e eu sou gerativista e funcionalista: não creio nem em língua pura nem em sexo sem fluidos e escatologia imanente.
Esculhambar não é só quem comenta aqui. Entre derrubar o capitalismo e a imbecilidade individual, eu prefiro derrubar esta última. Um mundo sem capitalismo seguiria sendo idiota – mas um capitalismo sem idiota seria muito melhor.
Como eu sou pela democracia (regime no qual não se fala idiotices impunemente: o comum vai lá e dá pebas & cascudos), eu avacalho (de corpo presente, inclusive) qualquer um que, como diz Niemeyer (de quem aliás não gosto) “fale besteira com ar de coisa séria”. Questão de ética, mais do que de estética.
Vivencio e venho acompanhando a cultura de não exploração animais há mais de dez anos, então, da minha experiência pessoal, posso afirmar que muito do que é afirmado no seu texto é apenas uma generalização do que vem a ser a prática do vegetarianismo, assim como uma resposta à uma certa tendência (vegetarianismo chic) que tem se evidenciado nos últimos tempos e que, portanto, você ironiza no seu texto (talvez com razão…)
No entanto, para aqueles que conhecem um pouco mais o vegetarianismo, tomar pela diversidade de princípios, idéias, objetivos, ideais, convicções, sentimentos e crenças que envolvem aderir à uma dieta sem carne e derivados de origem animal, faz com que seu texto pareça um tiro no escuro. De quem você está falando?
Entendo que existe um discurso classe-média em torno do vegetarianismo, assim como também já ouvi colegas veganos dizerem que consideram acabar com o problema da fome ao boicotarem a indústria da carne. Entendo que este é o tipo de discurso “mau-consciente” de que você fala no seu texto, mas considera muito arriscado apontar tantos problemas na postura vegana, quando o que há na verdade é muito mais uma diversidade de princípios que inspiram as pessoas do que um ideia universal. Entre eles a filosofia de não exploração, bem como a da liberação animal, são alguns dos princípios filosóficos que não tocam exatamente à uma questão econômica social, tão pouco cultural, mas estão pautadas em questões éticas, etc. A discussão se amplia. Seu texto nem toca nisso.
Por outro lado, é complicado pensar em filosofia de liberação animal? Sim. É complicado desvincular essa questão dos aspectos culturais? Sim, é complicado… mas esta não é uma discussão que se resolve atacando a cultura vegana chamando-a de “burguesa”, assim como não dá pra discutir veganismo se tomar como exemplo um grupo específico de vegans que, pelo menos para mim, não representam o veganismo como um todo.
Eu tomaria mais cuidado com as generalizações e com a simplificação de assuntos tão caros. Afinal, porquê você come carne apenas 4 vezes no ano (ao invés de todos os dias) se esta nao fosse, de fato, uma questão importante?
“porquê você come carne apenas 4 vezes no ano (ao invés de todos os dias) se esta nao fosse, de fato, uma questão importante?”
Justamente porque não é importante: como nas vezes que me dá prazer e desejo. Não como quando não me dá. E de toda sorte, eu me referia a carne vermelha. Nem é questão de saúde, é mero paladar. Outros tipos de carne, eu consumo todo dia. Aliás, se deixar bode e carneiro é dia sim outro também. E coelho eu gostaria de comer mais vezes – eita carne que eu adoro!
De resto, caro deprivado protéico, não é “mau-consciência” porque não existe “boa-consciência”. É má-consciência, um conceito do materialismo histórico-dialético – aliás, a partir de Louis Althusser, tem caráter de pleonasmo: qualquer consciência é má-consciência (isto é: é forjada na culpa e na dívida). Daí que uma “revolução” (detesto o termo), conquanto precise mudar mentalidades (sou engeliano ainda) não é através da “tomada de consciência” de que Marx falava (ele escreveu antes da descoberta da libido, do inconsciente e do desejo. Give the guy a break!)
“Entre eles a filosofia de não exploração, bem como a da liberação animal, são alguns dos princípios filosóficos que não tocam exatamente à uma questão econômica social, tão pouco cultural, mas estão pautadas em questões éticas, etc.”
Ou seja, você está admitindo que veganismo é um bagulho metafísico que nada tem a ver com a realidade prático-sensível (receba Lefebvre na caixa dos peitos!). E aliás, que diabo de “ética” que paira pura no ar e que nada tem a ver com as condições materiais e mentais de vida? Se isso não é teologia, meu amigo, eu sou Carmem Miranda!
Para concluir, não há “tantos” problemas na “postura vegana”. Há só dois: 1-desintelectualismo 2-mistificação teológica. (Mas como disse no início do texto: são problemas difusos na civilização atual, que cai no engodo de “Freud e Marx estão ultrapassados”. Claro, e Newton também: já notou que as coisas deixaram de cair e os planetas não giram mais?!)
http://papodehomem.com.br/o-mala-da-excecao/
“Acontece muito. Você diz: “os bláblás são inhé”, e lá vem:
“Nada disso, meu tio é bláblá e ele não é inhé. Arrá! Te peguei!”
Então, deixa eu explicar:
Quem disse “os bláblás são inhé” sabe que existem bláblás que não são inhé. Ninguém acha realmente que todos os qualquer coisa são qualquer coisa.
Provavelmente, a pessoa que falou que “os bláblás são inhé” está desenvolvendo um argumento ou pensamento que, acredite ou não, provavelmente independe de rigorosamente todos os bláblás serem inhé. Se só 99% ou até mesmo só 51% dos bláblás forem inhé, o argumento provavelmente vai se manter.
Ou seja, o mala da exceção nem mesmo desmontou o argumento do outro: ele só demonstrou, publicamente, ser o mala da exceção.
Que necessidade doentia de auto-expressão leva alguém a fazer isso?
Todo mundo já foi o mala da exceção. Ninguém está imune.
Mas quem leu a frase anterior e pensou, “arrá, EU nunca fui o mala da exceção”, é porque é.
Não seja.”
Lucas,
Qual a fonte da informação do texto sobre as origens do vegetarianismo no Brasil: “através do proletariado sintaticamente alienado e importacionista ligado ao Hip Hop”?
Obrigada.
Fonte: andanças adolescentes com Chiba D pela Barra Avenida e pela favela da Gamboa de Baixo e pelo Passeio Público de Salvador, acompanhado de longas e mitológicas conversas.
Parabéns pela tunda estilosa!
Achei que textos tão radiciais quanto esse seu não levam a nada. Completamente estereotipado, jocoso e raivoso, não busca entender os motivos do outro e nem contribui com a discussão.
São pra te comer melhor, chapeuzinho!
Lucas,
Polêmico e bem pontuado como sempre. O veganismo é uma das múltiplas facetas de uma esquerda dominada pela indigência teórica, a má-consciência pequeno-burguesa – que é carola por tabela, como vemos, principalmente, pelo movimento gay ou pelo feminista – e um certo oportunismo bobo que a faz jogar do lado errado sem perceber. A questão da culpa, aqui, é central, mas o que me interessou mais foi isso daqui: que fome não é estarvação, porque há fome específica; que fome dá lucro, porque é gerando escassez que se especula sobre a superabundância alimentar. Portanto, caro vegan, se os pobres comessem mais carne poderíamos paradoxalmente produzir menos boi – desde que a ampliação do consumo adviesse da melhor distribuição, do impedimento canino pelo Estado de que o Capital especule com os víveres e comodities alimentares. Eis o ponto que a esquerda carola não compreende, sobretudo quando falamos de aumento do consumo dos trabalhadores via aumento da renda do trabalho e capilarização do crédito.
abraços