sub-AninhaFranco

29/10/2011 at 19:59

“Só haverá liberdade quando o último jornalista for enforcado nas correias do último automóvel”

Apócrifo atribuído ao espírito desencarnado de Diderot

 

O Secretário de Cultura do Estado da Bahia, Albino Rubim, deu entrevista na Revista Muito (Ruim ou Pouco?), do tablóide em formato almaço Já Vai Tarde (ou Alguém Venda a Bagaça) – entrevista que seria excelente, se o entrevistador, o Des-Jornalista Ronaldo Jacobina, não tivesse se portado como um meliante infra-lúmpen. As perguntas variavam entre o desinformado e o cínico mau-caráter, em geral tentando provar uma fantasia masturbatória da direita cultural bahiana (que chamamos de carlismo-fashion): de que a gestão de Albino Rubim seria uma ruptura com a gestão de Márcio Meirelles – isto é: que se faria marcha-a-ré na Reforma Cultural em que a Bahia finalmente entrou, com 20 anos de atraso em relação a Pernambuco e quase 10 em relação ao resto do país (apesar do ministro grau-zero deste processo ter sido bahiano: Gilberto Gil). Como se Albino Rubim, ex-Presidente do Conselho Estadual de Cultura, fosse uma Ana Bruaca de Hollanda – aquela ministra que não sabe o que é o IPHAN (alguém toleraria um Ministro da Saúde que não soubesse o que é FioCruz?) e que não cai porque sequer sabe roubar. Como se Albino não tivesse afirmado justo o contrário (isto é: que sua gestão é uma continuidade e um aprimoramento da gestão de Márcio Meirelles), desde sempre, ad nauseam, inclusive nesta mesma entrevista.

Albino por outro lado se sai, como sempre (e também não é a primeira vez que mandam um jornalista despreparado entrevistá-lo), eximiamente: sem confronto, torna as perguntas risíveis. Um exemplo que guardo de memória desta entrevista:

Dizem que você foi o verdadeiro formulador das políticas da gestão de Márcio (sic!).

Acho isso uma grosseria com os técnicos e funcionários da Secretaria de Cultura.

Tapa com luva de pelica é isso. Mas, como todo perverso é masoquista, parece que Ronaldo Jacobina gosta de apanhar. Em geral é como se um moleque jogando resta-um enfrentasse um mestre do go; ou como se Ronaldo Jacobina fosse um maloqueiro cracômano tentando assaltar alguém com navalha enferrujada, e Albino esgrimasse uma cimitarra tal qual um mestre Soto.

O Goebbels do Geddelismo

A questão que me leva a sair do silêncio é outra. É esta interpretação da entrevista, feita pelo calhorda e canalha Samuel Celestino. O que Celestino afirma é tão fora da realidade que o coloca graus abaixo de Aninha Franco. Aninha delira e distorce fatos a seu favor – estamos aí no campo da psicose, ou do ressentimento primórdial comum às mulheres homossexuais; Samuel Celestino supõe fatos que lá não estiveram (quando afirma que Márcio desestruturou a política cultural anterior: não havia o que desestruturar porque, oh!, nunca tivemos Secretaria de Cultura antes – e se de Cultura e Turismo, isto é: de Turismo com a Cultura como apêndice e aí compreendida como Cultura para quem vem de fora, e nunca para a população bahiana de qualquer classe social que seja) – e assim está num grau anterior, no autismo ou no retardo mental no sentido Lacaniano do termo: aquele sujeito que, como Platão em A República, não consegue compreender os sinais que lê.

Samuel Celestino se queixa de que o Estado não cuida da “Cidade da Bahia”. Cidade da Bahia não há – há Salvador, uma capital cuja prefeitura acha desimportante ter secretaria específica de cultura. Mas Samuel Celestino exime-se de atacar o prefeito criminoso (não recolher 500 mihões de outorga onerosa é crime), o que o faz cúmplice na patologia neurológica e judicial comum a ambos. Apesar da prefeitura de João Henrique, que Samuel Celestino defende, Salvador tem sim uma vida cultural rica e exaustiva – inclusive já tendo superado o Axé System.

Queixa-se Samuel Celestino de que o orçamento estadual de cultura é baixo. É, mas já foi muito menor, se configurando hoje como o maior per-capita do país. E isso se conseguiu na gestão de Márcio – que foi, e é, também a de Albino. Aliás, a SECULT-BA tem o mérito de que a autoralidade das políticas que desenvolve seja difusa e constante work-in-progress – como Albino Rubim afirma na entrevista a Revista Muito, e já afirmara antes. Mas Samuel Celestino sofre de dislexia seletiva.

Aliás, Celestino cai na mais tatibitati das contradições: se ele acha que Albino será uma ruptura com a de Márcio, e que as políticas deste foram erradas, como é que atribui as políticas deste à Albino? Ou bem elas foram de Albino, e são ruims, e Albino também é ruim; ou então tudo ao contrário. É neste ponto mesmo que Samuel Celestino parece ter se contaminado da proverbial patologia psiquiátrica do Des-Prefeito Feirense de Salvador – aquele que se auto-acusa, sem prova, de ter usado dinheiro da merenda escolar para fazer Carnaval, e depois nega.

Outra: que o Vila Velha receber teto da verba do estado é absurdo por ser “de Márcio”. Ora, o Teatro Vila Velha é das instituições privadas de cultura mais vivas e produtivas do país! Já o Theatro XVIII, mesmo quando se manteve fechado por motivos meramente ideológicos, o mesmo Samuel Celestino defendia que recebesse ainda mais verba. Fico em dúvida: ele é a favor da apropriação indébita de verba pública? Fazia então apologia ao desvio de dinheiro do estado para fins privados? Seria aliás típico do Jornalismo Tupinambá, que acoberta a CBF e a FIFA.

Contudo, não se veja apenas negatividades nessa interpretação tresloucada e intratável clinicamente deste Des-Jornalista senil, carlista metodológico embora não o seja epistemicamente (o que o faz um boneco inflável de posto de gasolina). Há enorme positividade nesse wishful-thinking: Samuel Celestino, seu site, e o Já Vai Tarde, dependem desesperadamente do Axé-System para sobreviverem – isto é: da estagnação monopolista e latifundiária da Cultura que, a título de combaterem, querem justamente que volte. É o último suspiro do zumbi des-cerebrado.

Agora, vale lembrar que esse Des-Jornalismo cruzou a linha do bom-senso jurídico e incorre aí em calúnia e difamação. Caberia perfeitamente que Márcio Meirelles o processasse por danos morais, e espero que o faça; e que Albino Rubim exigisse judicialmente direito de resposta, ou ao menos pedisse diplomaticamente como é de seu feitio. Porque lembremos que Jornalismo é Crime de Paz, e que a liberdade de imprensa não apenas não colabora com a liberdade de expressão como a impede, na medida em que sonega e deturpa o acesso a livre informação – no mesmo sentido em que  o uso indiscriminado de automóveis não apenas não melhora o direito de ir e vir, como o impede, sonega e inviabiliza.

(E se meu tom agora é mais ríspido é que, depois da Festa Literária de Cachoeira, em que trabalhei e foi um sucesso, aderi a anti-literatura – isto é: parti pra luta armada. Porque a Literatura só se opõe ao jornalismo às vezes, e não de todo; porque o próprio Proust ao preferir ter antes amigos que leitores na verdade faz Anti-Literatura. A prova de que a Literatura pode acobertar o Jornalismo como Crime de Paz é que este pústula Samuel Celestino é membro da Academia Bahiana de Letras…)