O Som das Sextas – XXX

25/03/2011 at 8:36

Este Carnaval tardio deste ano causou uma estranheza temporo-climática na vida cá na Diaspórica: na semana seguinte a Quarta-Feira de Cinzas, começa a chover – o verão acabou junto com o Momo. E na semana seguinte, a segunda-feira é Dia de São José.

Dia de São José, com chuva prévia, quem é ao menos semi-nordestino (isto é: o Recôncavo Bahiano e no Jequitinhona de Minas) sabe o que significa: festa de São João farta e aproximando, bagas de amendoin cozido na casca (esta iguaria que só se encontra ao norte da Serra da Canastra – o resto do mundo só o come torrado) do tamanho de azeitonas, milho, e genipapo a dar com pau. E com razão: Corpus Christie desse ano cai em véspera do dia do santo do carneirinho, então a paulistada pode vir ralar buxo no xiado da chinela, se quiser – será feriado lá no sul desta vez, como toda vez o é aqui.

Como pedalar por Salvador na chuvinha fina do 19-do-3 (dezenove de março, dia de São José) sem lembrar de Patativa do Assaré? “a 13 do mês / ele fez experiência / perdeu sua fé e suas pedras de sal / (…) Apela pra março / que é o mês preferido/ do santo querido / Senhor São José“.

E mais do que Patativa, de um de seus herdeiros: Cabruêra (que me foi apresentado há muito tempo pelo alagoano radicado na capital da Paraíba, isto é: Recife – o jovem cineasta Roberto Wagner) – e em específico o belo lamento, quase cante a palo seco, Ciência Nordestina (que infelizmente não tem em vídeo e é preciso clicar no link ao lado para ouvir.:

Choveu

no dia de São José

pedra de sal derreteu

vou fazer minha fogueira.

Na ciência

do meu povo nordestino

desde que eu era menino

aprendi com a Natureza.

Na experiência

que só se faz nesse mês

no dezenove do três

eu já sei se tem colheita”

A Cabruêra talvez seja o mais dileto herdeiro rural do pós-Mangue (no mundo urbano, é o Mombojó). Levou o forró muderno para a Paraíba – isto é: para a cosmopolita e industrial cidade interiorana de Campina Grande, onde nasceu o grande artista de rua internacional Jackson do Pandeiro. C0mpreendeu o Nordeste Franco como Mítico, e o extendeu poeticamente ao Pará dos imigrantes cearenses, Eldorado, terra da bala, Marabá, e mesmo para o Paraná e São Paulo, ou o que acontece com os sem-terra do Pontal do Paraná-Panema não é nordestino o bastante?. Não satisfeitos, cruzaram, no instrumental, Mestre Salustiano da rabeca com Jimmy Page e uma caneta BIC, no seu fabuloso Forró Esferográfico.