O Som das Sextas – XXVIII
Em semana que teve uma pseudo-Revolta do Buzu e outras coisas pé-na-jaca, também foi a semana em que a Banda Cissa Guimarães volta a se apresentar no Rio Vermelho, num lugar quase tão trash quanto o velho Café Calypso nos tempos de resistência ao Axé-Sistem.
E não poderia ser diferente: se esta reaproximação entre o popular-bahianérrimo e certa sofisticação medioclasse ligada ao rock e ao jazz se acirrou com o Suinga, e começou com a Orkestra Rumpilezz e com o BaianaSystem, é na Banda Cissa Guimarães que tem seus percursores.
O som é intensionalmente ruim e sem-sentido, com um pé fincado no punk mais brutal da cidade industrial de Camaçari, como o Pastel de Miolos (sobre quem ainda devemos um Som das Sextas); e o outro no pagodão mais suingueira-rarará, para tratar dos cobradores de buzu com bigodinho safadeza, das ninja e das badogueiras (no limite isso, claro, remonta ao grande estudioso do bahianês, carlista embora, Renato Fechine).
Há uma positividade na tosquidão da Banda Cissa Guimarães. De alguma forma, herdamos do Axé-Sistem uma obstinação pela excelência musical, às vezes bastante cansativa; no caso da Cissa, isso não acontece. Embora por vezes denso (misturando Nietzsche com Gerônimo), seu humor é totalmente misleading (como quando, por exemplo, se definem como “uma banda que tem como objetivo tocar o mais puro reggae roots para você se divertir e dançar“, sendo que não tocam reggae algum). E se mostram um saudosismo pelos tempos do cacete-armado do Idearium, também são capazes de criticá-lo desde o tempo em que só havia o Idearium, e mais nada, para a noite rockeira camisas-pretas da Bahia (e como eles mesmos dizem: camisa preta de banda de rock, em Salvador, é sinal de doença).
Vitalidade e criticidade de sobra – bem ao contrário de uma certa pseudo-rebelião estudantil que pretendeu (no sentido de “fingiu”) acontecer esta semana, que nem deve saber que a Banda Cissa Guimarães existe (mas se soubessem teriam sido mais felizes em sua empreitada).
Essa banda é um lixo.
Ninguém sabe tocar porra nenhuma, o cantor não sabe cantar, ninguém sabe compor, e ainda vem com esse papo de punk pra justificar a inaptidão para a música. Talvez devessem tentar o humor.
E esse papo de pós-axé, não sei não.
Se fala em pós-axé como se este estivesse passado, mas ivete tá cada vez mais rica e mais considerada uma “diva” (sic) da música brasileira por grande parte da crítica e público.
Aqui na Bahia pode ter pós tudo, mas o axé tá mais vivo do que nunca, evoluindo (se é que se pode usar essa palavra pra tal estilo musical), se transformando nas mulheres maravilhas, rebolation e etc e tal. O pagode é a sua cria mais robusta. e não venha me dizer que o pagode não resulta do axé, que resulta sim. Talvez não pela influência musical, mas como produto que se insere no mesmo mercado que o axé é, e pelo nível de grande maioria dos “apreciadores” de música da Bahia, sempre será presente e vivo, robusto e antes de tudo muito lucrativo pra uns poucos empresários e músicos dessa terra triste e devastada culturalmente.
Quando se fala na superação do Axé-System é enquanto sistema político-econômico, não enquanto estética. Isso já foi largamente explicado.
O Pagodão não é, nem nunca foi, axé-music – e só participou do Axé-System marginalmente. A suingueirararará mais ainda.
E, bom, o concerto de Natal do Neojibá deu mais de 4mil pessoas. Se isso não lhe diz nada, paciência…
O nome originário da banda “Cissa Guimarães – quebra o coco mas não arrebenta a sapucaia”, era, sonora e meramente, “Desgraça”. Mas aparentemente eles preferiram usar de nome que não fosse ferir (?!) os ouvidos alheios…
Como se num fosse a segunda palavra frase-de-situação-e-mais-todas-as-classes-gramaticais-e-figuras-de-linguagem-possiveis mais pronunciada na Bahia.
A primeira, evidentemente, é “porra”: “Bahêêa,meaporra”.
Ponto provado, aliás, em uma conversa com um dos membros da banda, na sempre cheia classe de Patiologia III na EBA:
_”Ninguém larga um “merda”, como o carioca. Mas, porra, véi, DESGRAÇA!, só um baiano sabe dizer com propriedade.”
XD
Meu avô paterno, direto do IAPETEC da Ribeira, berrava “disgraça” (com i), como ninguém. Miséria e porra, também. Mas xingar, jamais: e merda é xingamento, mas porra, disgraça e miséria, nunca o são em bahianês.
risos, essa porcaria existe desde os encontros do #metal-ba no piano do shopping iguatemi…. no dia que surgir algo realmente que habite o centro de salvador, tipo the honkers na calçada do trem ou a assossiação mr. harry harller eo samba do patinho feio no nho caldos, quem sabe, digamos que exista um tempo de retomada em salvador.
Pelo direito democrático universal de dizer bobagem…