A Cultura na Boca-de-Cena Política 2, a missão!

07/09/2010 at 0:10

Há exatamente um ano atrás diziamos que Marcio Meirelles, como Secretário Estadual de Cultura, tinha um mérito que estava aquém, além, e afora seus êxitos como gestor: recolocar a Cultura como questão política, e mesmo partidária e eleitoral, na Bahia. É verdade que isso ocorre a nível nacional, e desde antes, por causa de Gilberto Gil como Ministro na mesma pasta. Exemplo disso é o surgimento dos diversos Partidos da Cultura – não por acaso vetorizados por instâncias bahianas surgidas a sombra da Reforma Cultural de Sêo Marcio, como o Quina Cultural e o Fora do Eixo.

Isto é: ao contrário do que gritam o Carlismo Ideológico (do PFL) e Metodológico (de Geddel Vieira Lima), a Bahia não “perdeu proeminência para Pernambuco”. Ao contrário: voltando a compartilhar poder com Recife, Salvador (mal-grado seu Prefeito ignóbil e neuropata) voltou a ser o elo de ligação entre o Nordeste-franco e o Sudeste. A Bahia recuperou importância política e cultural que nunca teve sob o Carlismo, e que só teve sob o Mangabeirismo. Tanto assim que a tual campanha de Aloízio Mercadante para governador de São Paulo, mais vitoriosa até agora do que a mídia faz parecer, importa os métodos de Jaques Wagner em 2006 – é a “wagneração” (que seu adversário ao Palácio dos Bandeirantes, Geraldo Alckmin, conhece bem: foi um dos principais vetores de sua derrota no segundo turno presidencial de 2006). Se com ACM a Bahia exportou métodos políticos, deu em Médici, Collor e José Serra. Não é nada que se deva admirar, portanto.

Tanto assim é que o Correio da Bahia fez uma sabatina com os quatro candidatos a governador só sobre política cultural (“nunca antes na História deste Estado!”, poderia dizer o Galego, se quisesse…). O Correio é jornal de extração geneticamente carlista, mas que por isso mesmo foi o único a conseguir manter lucidez e coerência após a vitória de Wagner em 2006 (o Já Vai Tarde ocila entre o hospício que já era antes, e o circo que tenta ser – falta-lhe, contudo, dinheiro até para a lona).

Quem quiser ler, vai lá e acessa, que vale a pena. Muito longo, não colocaremos aqui a cópia do texto. Contudo, cabe uma breve análise: fica claro que nem Bassuma nem Geddel propõem nada como quem acha que vai ganhar. Bassuma diz coisa acertadas, como a necessidade de um orçamento mínimo constitucional para a Cultura – mas isso diz quem sabe que não terá de executar o embate. Geddel em geral fala com “olhar de retrovisor”: coisas como “é preciso democratizar a cultura, e não deixar na mão de uns poucos escolhidos” – isto é: fazer o que o Governo Wagner já faz. E o que João Henrique não faz.

A Orkestra Rumpilezz ganhou dois prêmios na mesma noite no 21º Prêmio Música Brasil, talvez o mais importante do país: revelação e melhor instrumental. A Fundação Cultural do Estado da Bahia cedeu, uma semana depois, o Espaço Xisto Bahia, na Biblioteca dos Barris, para que a Rumpilezz lá resida. João Henrique tem o Teatro Gregório de Mattos e o Centro Cultural da Barroquinha praticamente parados. Poderia, a título de populismo, ter oferecido um destes espaços. Seria no mínimo digno, ainda que cínico e obviamente interesseiro. Mas nem pra populista ele serve!

Substitua no parágrafo acima “João Henrique” por “Geddel”, e se tem uma noção do que pensa este sub-candidato a respeito de política cultural e de sua execução. Numa recente discussão comigo no Twitter, Geddel não sabia diferenciar restaurante turístico de café para ocupação publica de espaço, no tocante a política de museus; e nada soube dizer sobre o abandono e a baixa frequentação do Museu da Cidade, municipal, que tem obras (entregues ao tempo e sem acondicionamento correto) de Genaro de Carvalho e Carlos Bastos.

O discurso de Paulo Souto, como o de Wagner, é de quem sabe que pode ganhar. Paulo Souto defende abertamente o Axé-Sistem; por exemplo, chega a dizer que “O Estado deve trabalhar junto ao Mercado (sic) para que a atividade cultural seja lucrativa (sic)”. Evidente que não concordamos com isso – uma coisa é insistir que a Cultura tem de ser economicamente sustentável e gerar renda distributiva, outra é dizer que deve ser centrada no Mercado (e não no Debate Crítico) e gerar lucro financeiro (e não capital cultural). Porém, é digno vê-lo defender idéias que nem mesmo os empresários do Axé-Sistem defenderiam hoje que até o Bloco Eva vai sair sem corda na terça-feira de carnaval.

Wagner defende o que deve e pode defender: o aprofundamento das céleres e benéficas mudanças perpetradas pelo seu fiel Secretário de Cultura. Céleres sim. Ou você pensava a 4 anos atrás que a Bahia teria hoje uma das melhores sinfônicas jovens do planeta? (para ficarmos em um único, e unânime, exemplo, a que até Paulo Souto elogiou) – Só que não temos uma, não: são quatro, e se chamam, juntas, Neojibá.

Em Tempo: Sobre o Neojibá, nos agrada o que disse Maestro Ricardo Castro em entrevista na Record News (canal fechado – o vídeo foi infelizmente removido do Youtube) para Paulo Henrique Amorim. “O que o Senhor Maestro pretende com CDs e DVDs do Neojibá?”, perguntou o jornalista; “Olha, eu gostaria de vê-los vendidos, em versão pirata, na praia de São Tomé de Paripe, que nem disco de pagodão e arrocha”. Genial! E não duvide: estamos andando aos pulos nesta direção de democratização do acesso a música erudita, na Bahia. Perguntei a Paulo Souto o que ele pensava desta idéia de Ricardo Castro; ele foi contra. Como não poderia deixar de ser (é bonito ver um político de direita sendo claramente de direita, sem vergonha alguma disso) – mas o que não me deixa muito mais a dizer, não é?