Agora que o Carnaval passou…

24/02/2010 at 16:51

como não é no Rio de Janeiro, a Globo não mostra...

como não é no Rio de Janeiro, a Globo não mostra...

Salvador vai descansar, dormir – e “não vai ter nada pra fazer nessa província axezeira”, né?

Para desespero das viúvas, “helas, non!”. Sem delongas, esta semana começa o Espicha Verão (eu continuo achando esse nome péssimo!). Três fins de semana seguidos com shows dentro das águas da Melhor Praia Urbana do Mundo, o Porto da Barra, num palco flutuante – entre outros eventos nos arrabaldes, em que as ruas ficam cerceadas para carros e criancinhas brincam em meio a acarás azuis no centro da quinta maior cidade da América do Sul.

Este ano, o Praia 24h ganha dimensões internacionais. Dia 13 de março quem toca é o Buena Vista Social Club. Sim, você leu certo, estamos nos referindo a crooning-orquestra de Imbrahim Ferrer, Omara Portuondo e Compay Segundo. Aliás, dia 13 vai ser dia de orquestras no Porto da Barra: logo depois tem os frevos & dobrados de Fred Dantas, e encerrando a noite a Orkestra Rumpilezz.

Tudo, repito, de graça e na única das dez melhores praias do planeta que fica no centro de uma metrópole e é brasileira. Para desespero dos moradores do Reino Unido de Ipanema, recifenses, pitubanos, e outros invejosos de plantão.

Aproveito e lembro que no mesmo dia 13 tem Baile Esquema Novo, na Boomerangue, já que a reforma da casa foi adiada novamente. Como o show do Buena Vista é o primeiro da noite, da pra ficar no Porto e depois ir direto pro Rio Vermelho sambar, frevar, e saracotear até o dia amanhecer. Até porque é uma delicia ir pro Baile Esquema Novo com roupa de praia…

O melhor do Espicha Verão é que, apesar de evento grande e relativamente turístico, não tem clima de Carnaval ou Pré-Carnaval. Ao contrário, é bastante família, calminho, suave – sem os episódios de mania coletiva da festa momesca. Perfeito pra curar ressaca.

Cereja do bolo: a Formidável Família Musical promete dar uma passada de volta aqui no berço, dia 19 de março na Boomerangue. Pra matar a saudade de um sonho bom, querubins, e lalalá pra ser feliz.

* * *

Não se pense que apenas de música popular e ruas se faz o pós-carnaval bahiano. A programação de música erudita do estado esse ano não apenas começa mais cedo, como é mais vasta e densa.

O Mozart nas Igrejas não espera abril pra iniciar, e tem sua primeira edição logo agora dia 17 de março, 20h, na Catedral Basílica do Terreiro de Jesus. Quem rege é ninguém menos que Sir Christopher Warren-Green, Cavaleiro da Coroa britânica e diretor da Orquestra de Câmara do Palácio Real Britânico. Que regerá também a abertura da Série OSBA, dias 09 e 10 de março, na sala principal do Teatro Castro Alves.

Sir Warren-Green passou dois meses aqui ano passado – ensaiando inclusive o Neojibá. E repete a dose agora. Não tarda, vai fazer como a pianista Maria João Pires e se mudar de vez pra Salvador.

Gostem ou não gostem, Salvador é hoje a capital da música erudita no Brasil. Alex Klein, na última FEMUSC, disse que o Neojibá é “o fato mais importante da música de concerto neste país em décadas”. Não um dos fatos – mas O fato. É exagero – e lisonjeiro!

E o Neojibá inicia sua turnê 2010 em grande estilo: dia 05 de março, 20h, toca uma suite de um modernista mexicano (em substituição a Estância, do argentino Alberto Ginastera), a difícil (por ser manjada) Quinta Sinfonia de Beethoven – e Rapsódia em Azul, a obra-prima de George Gershwin. Haviamos sugerido na comunidade do Neojibá no Orkut este repertório de modernistas americanos, e na época nos foi informado de que já estavam em processo de ensaio. Fico satisfeito com isso.

Contudo, há uma galera do Cultura na UTI que acha que não. Observem no blog do Victor Hugo Soares (que apesar de bom jornalista, tem o mal-habito de não moderar os comentários de seus leitores – e eu não comento mais em blog que não tem moderação), comentário de uma tal Ana, de 21 de fevereiro de 2010, às 17h e 59min:

é simplismente patético louvar a Orquestra Jovem Dois de Julho apresentando o Rapsody In Blue, de Gershwin. por si só isso nào quer dizer nada, culturalmente. temos que avaliar a qualidade. marcio meireles não entende nada de música, o que vemos aqui é um cenário periclitante, com bell marques comprando jatinho de 17 milhões e uma panelinha de gente que baba o ovo de marcio – sem excluir pseudo-escritores sem obra – ganhar um lugar ao sol. digo: um lugar na varanda elétrica

Ora, um Secretário de Cultura não precisa conhecer de música. As pessoas que trabalham nesta área da Secretaria precisam. Alguém duvida que Gilberto Monte e o maestro Ricardo Castro entendam bem de música?  De resto, “temos de avaliar a qualidade do Neojibá”. Claro! Sir Warren-Green, Alex Klein, o Bradesco Cultural e Daniela Mercury são loucos varridos! O Neojibá é péssimo, sabiam não? (Em tempo: ainda que o Neojibá não tivesse escaça qualidade estética – e tem de sobra! – só o fato de haver um sistema público e programático de ensino de música erúdita para crianças e jóvens na Bahia já é louvável).

Ademais, o que tem a Secretaria de Cultura com a compra de um jatinho por Bel do Chiclete? – logo a SECULT, até agora única entidade pública a encarar de frente o desafio de desconstruir o Axé-Sistem… (e aliás, com algum sucesso). É uma oposição interesseira, sofismática, mentirosa. Não dá nem pra levar a sério.