Política de Museus em Passo-de-Valsa

06/01/2010 at 22:08

Ela dá um passo pra frente, e outro pra trás: em círculos.

Ela dá um passo pra frente, e outro pra trás: em círculos.

Se recentemente tenho passado a elogiar a Política de Museus atual do Estado da Bahia – que tornou-se orgânica, ganhou rumos republicanos, e fez cada unidade museológica ter um sentido e ampliar sua frequentação – por outro não se pode perder de vista que é, ainda, das áreas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, a mais problemática e controversa.

Senão vejamos meu último elogio, anteontem, de que o MAM cumpre agora, com sua retrospectiva histórica relançando sua coleção permanente, um importante papel de pedagogia política sem partidarismo. Isto acontece, e aponta para a proposta de sua diretora, Solange Farkas, de a partir de 2010 haver uma Bienal de Artes Plásticas da Bahia.

Projeto louvável. Retoma idéias de Juarez Paraíso nos anos 1970, que foram relevantes para o Nordeste inteiro e não apenas para a Bahia. Relembra, assim, a lufada de democracia em meio ao carlismo que foi o governo de Roberto Santos. O que, num ano em que ele sairá provavelmente candidato a Senador, tem redobrada importância.

Mas fazer isso tem o custo de, este ano, pela primeira vez em dezesseis anos, não haver o Salão MAM-Bahia. Ora, é um retrocesso! Por que ter uma Bienal implica em descontinuar o anual Salão? Mais ainda: o Salão já teve altos e baixos; no entanto, os últimos dois, sob a direção de Farkas, foram importantes, potentes e renovadores. O último, de 2008, inclusive deu nova função à antiga área do Restaurante (turístico) do sub-solo, criando um belíssimo café e creperia.

Por que, então, abrir mão destas conquistas, Sra. Farkas? Conquistas que não são só suas, e vêm do “longo amanhecer” para fora do carlismo, desde 1994 com Heitor Reis no primeiro Governo Paulo Souto, como a própria Linha do Tempo agora exposta no Museu de Arte Moderna Solar do Unhão demonstra e mostra.

A idéia é de que seja um passo a trás para dar dois a frente – leninismo a parte. Talvez. Com o Rodin foi assim: 3 anos de atraso representaram um salto qualitativo. Com o Museu do Azulejo Udo Knoff, também. Só que todos estes eram museus cuja relação com a cidade era parca, ou ainda inexistente. O MAM não é assim, repito, desde Heitor Reis. Em boa medida, por causa dos Salões – e da Jam Session, que também a Sra. Farkas corretamente retomou.

Temo que, para o Solar do Unhão, seja apenas um passo de valsa: um passo e um contratempo a frente, um passo e um contratempo atrás, e o casal vai a girar e girar, sem avanço nem retrocesso. O que seria uma lástima…