Sob os tetos art-nouveau da Barra-Avenida
Valéria é traveca - mas isso é um detalhe a mais...!
O Bar Marquês, que tava virando coisa de viadinho, ante-sala da (b)Off Club, voltou a carga com seu estilo campy, decadentista, fin-du-siécle, implosivo de distinções de gênero e preferências genitais – com a elegância extremada (talvez decida da Graça, visto que o Marquês fica no sopé do mais aristocrático bairro talvez do país) que lhe é própria
Agora, toda quinta-feira tem show lá com Valéria, dirigida por Fernando Marinho e Ricardo Castro (o ator, não o maestro), Sob O Céu de Paris. O mesmo climão de cabaret opióide. E, dia de semana, mais mistura etária, social, cultural, e menos sectarismo guetista.
Valéria é uma atriz e cantora brilhante, dona de voz e corpo impecáveis – que, por acaso (mas não gratuitamente), é travesti. Claro que o fato de ela ser um inter-gênero torna o evento ainda mais “Marquês”. Mas suas qualidades são conhecidas: indicada mais de uma vez ao Prêmio Braskem, sempre esteve ligada a fina flor do metier artístico da Bahia: fazia shows no Velho Vila (anterior a reabertura) e no Cabaret dos Novos (depois que o Vila reabriu); recentemente no recém-reinaugurado (pelo Vila Velha) Teatro Gamboa Nova. E também foi do Teatro Gamboa da resistência dos anos 80.
O espetáculo transita pela chanson francesa, de operetas da época da Reforma Hausmaniana e antes, até a contemporaneidade. O título me soa como clara referência à obra-prima do precursor do Cinema Realista Poético (da Filmes Pathé dos anos 30 e 40), René Clair, Sob os Tetos de Paris (filme que é a um só tempo um “musical mudo”, ocupando plenamente duas estéticas opostas!).
Enfim, cousa fina de melhor estirpe. Vou lá hoje, e aproveito tomo alguns dos melhores drinks que se pode tomar neste continente.
Adorei esta iniciativa dos mesmos artistas do Trilha Sonora. Sugiro que veja, também em comemoração ao ano da França no Brasil, a peça Tempestade 13º Sul no Martins Gonçalves.